Corporações de Artífices

por Lélia Coelho Frota
Em Portugal, as corporações medievais não se estruturaram com o mesmo rigor das suas congêneres européias, pois na Casa dos 24, criada em 1422, os artífices se distribuíam por igual número de corporações, com seus respectivos juízes. Caracterizavam-se aí as gradações profissionais de companheiro, aprendiz, oficial e, finalmente, mestre, que devia comprovar sua mestria para o juiz do seu ofício, por sua vez nomeado pela Câmara Municipal. Em 1523, foram criados em Lisboa os Regimentos dos Oficiais Mecânicos, transplantados para o Brasil mais por tradição que por um sistema institucionalizado. Se em Portugal essas corporações de ofícios já haviam assumido caráter mais religioso do que de propriedade de oficina, no Brasil, onde era diverso o papel da Câmara Municipal, elas se tornaram mais frouxas e descaracterizadas. Se por um lado esse fato poderia trazer menor rigor na formação dos artífices, por outro lhes concedeu a folga com a qual puderam adestrar-se, inserindo no seu trabalho a marca das suas etnias e adaptando às obras que realizavam os materiais novos que o meio ambiente americano oferecia. E não se pode esquecer que índios e negros traziam consigo técnicas centenárias do fazer manual. Estas se mesclaram ao saber dos mestres-de-obras portugueses, vindos da tradição de construir luso-oriental e moçárabe, familiarizada com as exigências dos climas quentes. Portanto, não foi muito significativa a abolição, em 1824, das corporações de ofícios no Brasil, pois na realidade os artífices já se haviam formado através de modos muito diferenciados de qualificação. Acompanhando o processo de ruralização, tônica da organização econômica e social da Colônia, foram se configurando as técnicas da marcenaria, alvenaria, olaria, tecelagem, pintura, talha e encarnação de imagens.